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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Homenagem


Prof. Dr. Eng. Edgar Cardoso

(1913 - 2000)


É um dos maiores génios da engenharia civil nacional e internacional. Edgar Cardoso executou mais de meio milhar de estudos e projectos. Para ele, a engenharia era o equivalente a um romance fabuloso que só aquele escritor poderia escrever: irrepetível e único. Irreverente, gostava de inovar em cada trabalho. Engenheiro, arquitecto, professor e investigador, notabilizou-se pelas pontes que projectou. “Arquitectonicamente, são obras de arte”, admira o arquitecto José Manuel Fernandes. Para Edgar Cardoso o trabalho era uma causa nobre. Não era um suicídio absurdo nem uma maneira de passar o tempo.

Nascido em 11 de Maio de 1913 no Porto, Edgar Cardoso tem um currículo invejável. Formou-se em Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1937. No ano seguinte iniciou a carreira profissional na Direcção dos Serviços de Pontes da Junta Autónoma das Estradas, organismo que lhe adjudicou a elaboração dos anteprojectos da Ponte da Arrábida, no Porto, uma das suas obras mais emblemáticas. É a ponte portuguesa com o maior arco em betão e um exemplo da preocupação de Cardoso em integrar a obra concebida na paisagem. Também a Ponte São João, no Porto, a Ponte da Figueira da Foz ou a Ponte Nobre de Carvalho, em Macau, são prova deste princípio que norteia o seu trabalho.

Todas as pontes se distinguem, aliás, pela imponência da estrutura, estética e leveza. Verdadeiras esculturas que resultam de um empenho feroz do autor em surpreender. Edgar Cardoso tinha apetência para romper com os regulamentos. Recusava as soluções-padrão. Uma linha de pensamento que colidia com o espírito conservador dominante. Ficou conhecido pela personalidade polémica. Ficaram famosos episódios controversos, como os pulos que deu sobre a pala do Estádio de Alvalade para atestar a sua segurança, atitude que lhe assegurou inimizades no Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Registado ficou também o alarme público sobre o mau estado de conservação das infra-estruturas portuguesas. Edgar Cardoso não se contentava com a mediocridade. Para ele, querer o impossível é a melhor maneira de realizar o possível.

Com extraordinária capacidade inventiva e habilidade manual, Cardoso construía modelos ou maquetas das suas estruturas em diversos materiais - gesso, cortiça, cartão, etc. - e media, com aparelhos inventados por si, o seu comportamento estrutural. Na altura, a prática era recorrer a modelos numéricos, mas o arquitecto foi pioneiro na utilização dos modelos físicos (1939-1940). Com isso, fez escola em Portugal. “Há matemáticos intuitivos. Ele construía a partir de modelos, da sua habilidade táctil, de sentir as coisas e a força das peças, e não tanto a partir do cálculo enquanto matemática pura”, explica o arquitecto José Manuel Fernandes. O seu desprezo pelas fórmulas matemáticas era sobejamente conhecido.

A dura e irascível personalidade de Edgar Cardoso era também notória nas aulas. Foi professor catedrático no Instituto Superior Técnico, actividade que interrompeu entre 1975 e 1980 por ser acusado de defender o antigo regime. Não suportava ouvir despropósitos dos alunos e não perdia oportunidade de ridicularizá-los, “não para destruir”, dizia, mas para “obrigar a bem construir”. Marcou uma geração. Hoje, muitos engenheiros seguem os seus ensinamentos, métodos de observação e modelos físicos.

Edgar Cardoso projectou ainda o prolongamento do Aeroporto da Madeira, os suportes da alameda do Parque Eduardo VII sobre a Estufa Fria, o Cine-Teatro Império, os hotéis Aviz e Sheraton, em Lisboa, os edifícios das faculdades de Letras, Medicina e Matemática da Universidade de Coimbra, a Ponte Cuanza, em Angola, e a Ponte Zambeze, em Moçambique. Como disse, em Junho deste ano, o primeiro-ministro José Sócrates à Agência Lusa, Edgar Cardoso “fez muito pela internacionalização da construção civil portuguesa”.